Do Manuscrito de Saragoça de Potocki a Kafka, das Mil e uma Noites a Poe ou Nerval, a literatura fantástica nos oferece as atrações insólitas de um gênero específico cuja particularidade, no entanto, não foi ainda definida. Mas no atual estado da poética, o exame dessa questão tornou-se tão inevitável quanto o da questão do agrupamento sistemático de diferentes propriedades do discurso, ou seja, precisamente, a de gênero. Procurando os elementos que o definem no caso do fantástico, Tzvetan Todorov mostra que sua determinação deve passar pelo leitor implícito do texto: trata-se apenas da hesitação preservada (desse leitor) entre uma explicação natural (o estranho) e uma explicação sobrenatural (o maravilhoso).Por outro lado, não é possível conceituar a literatura fantástica sem efetua rum estudo dos temas cuja rede a constitui. O fantástico, nos termos em que a poética analisa sua organização (que nada tem a ver com a interpretação), é elaborado a partir de uma ou outra de suas séries: relação com o mundo, percepção, olhar, relação com o outro, inconsciente, linguagem. Fazendo-o, Introdução à Literatura Fantástica se constitui em obra de referência, e não apenas por seu objeto, pois, pela primeira vez, os estudos literários logram, por seu intermédio, delimitar um gênero a partir de um tipo de escritura muitas vezes estigmatizado como “menor”. Esse feito é o de um estudioso cuja contribuição marca o debate teórico da contemporaneidade. Mais ainda, Tzvetan Todorov leva à frente, na crítica do fenômeno literário, a tradição de um humanismo vanguardista e ilustrado, que abarca desde os formalistas russos e a abordagem estrutural da narratividade até o conceito de alteridade, sempre com o mesmo rigor de pesquisador e originalidade de perspectiva.