• Turismo legitimado  -  Espetáculos e invisibilidades
Deixar-se levar pelas ideias hegemônicas de turismo, criadas []para continuar a preservar a ordem e o progresso atual de seu desenvolvimento, é inibir a reflexão crítica que visa desvelar []um mundo onde a injustiça, a pobreza, a desigualdade e os problemas humanos e ambientais fazem parte de uma ordem funcional e estrutural que não foi reconvertida e que incide diretamente sobre o turismo, mas também sobre o conhecimento produzido acerca dele. A afirmação acima, de Marcelino Castillo Nechar, pode fazer as vezes de prólogo às inquietantes posições que o pesquisador Helio Hintze apresenta nesta obra. Turismo legitimado reflete criticamente sobre a produção discursiva do turismo contemporâneo, evidenciando a colonização que o mercado exerce junto à produção de conhecimentos neste campo, tal qual incide sobre as narrativas propostas pela retórica oficial de destacados agentes do setor, como o Conselho Mundial de Viagens e Turismo (WTTC), a Organização Mundial do Turismo das Nações Unidas, a mídia e a academia, imersos na produção de subjetividade capitalista. Não somente paisagem auspiciosa, o autor demonstra de que modo tal exposição metódica tem o papel de legitimar o mercado neoliberal que explora o status quo do turismo e o consolidacomo um dos mais bem estruturados dispositivos da produção e captura de subjetividade que o sistema capitalista já desenvolveu. Espetacularizando o turismo por meio da permanente reafirmação dos clichês que o apresentam como lícito e ético, um direito do cidadão ou um exercício de liberdade e instrumento para a resolução pacífica de conflitos entre os povos, dentre outros lugares (ainda mais) comuns que permeiam as diferentes narrativas do turismo na contemporaneidade , o discurso hegemônico torna invisíveis as graves adversidades que as dinâmicas do mercado notadamente impõem: a fabricação e a manutenção de desigualdades sociais, a conversão de pessoas, culturas e ambientes em recursos a serem explorados pelo capital, as disputas não equitativas entre forças assimétricas, a promoção de etnocentrismos e de separações naturalizadas e hierarquizadas de classes e pessoas, além da descartabilidade de destinos turísticos nos quais estas e outras malversações já se impuseram. A relação entre tais vias dissemelhantes é direta: quanto mais se espetaculariza o turismo, mais os problemas existentes na atividade são tornados invisíveis. Exemplarmente, o mito da vocação natural do Brasil para o turismo, aptidão assentada no espetáculo de nossa pseudoidentidade nacional, substancia o que a comodificação do Brasil mestiço se esforça em ocultar: lutas de poder, racismo e sexismo. Na construção da metonímica turística, os conflitos são banidos do mundo espetacularmente produzido pelo clichê. Todavia, a realidade insiste em ser ambígua, complexa e contraditória. O que o clichê turístico cria é apenas uma película ilusória de proteção contra essa realidade. Enfim, uma obra que desassossega e desconforta o leitor, evidenciando questões que há muito têm sido ignoradas ou propositalmente evitadas. Tão incômoda quanto necessária. Flávia Roberta Cortez Lombardo Costa Mestre em Ciências da Comunicação [Turismo] pela Escola de Comunicações e Artes da USP e coordenadora de Turismo Social do Sesc em São Paulo
Informações técnicas
Número de Páginas 360
Ano de Publicação 20.12.2020
Autor Helio Hintze; Danilo Santos de Miranda; Helio Hintze;
ISBN 9786586111248
Comprimento (cm) 1.8
Largura (cm) 16.2
Altura (cm) 23

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Turismo legitimado - Espetáculos e invisibilidades

  • Editora: EDICOES SESC
  • Disponibilidade: Em estoque
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