Neste segundo volume que Leda Tenório da Motta dedica ao autor de O grau zero da escritura, descobrimos, com surpresa, além do mais, que Godard e Barthes partilham a vertiginosa interiorização dos protestantes, e que ela é produtiva. Ligada à criação do primeiro no seio de uma família materna pertencente à religião da reforma, em pleno país basco francês, e à evolução do segundo numa família de intelectuais, que deu reverendos e teólogos, num cantão da Suíça calvinista, é essa herança comum, assumida, aliás, como destino, que os leva à confidencialidade – o mar de histórias do cinema em primeira pessoa de Godard, o discurso existencial de Barthes em sala de aula –, e os inclina ao viver-junto das comunidades idiorrítmicas, como são os Cahiers, na fase heroica e, no caso de Barthes, o espaço amoroso do Seminário. Mas é principalmente isso que os imbui de um sentimento, não de exclusão, o que seria patético, mas de destacamento do mundo ao redor, e os põe sempre na posição da testemunha. O que, por outro lado, explica que sejam brechtianos da primeira hora e idênticos semioclastas, na contramão da piedade da alta cultura, no século dos derrubadores de imagens.
Informações técnicas | |
Número de Páginas | 224 |
Ano de Publicação | 2021 |
Editora | ILUMINURAS |
Autor | LEDA TENÓRIO DA MOTTA |
ISBN | 9788573214758 |
Comprimento (cm) | 23 |
Largura (cm) | 16 |