Pouco antes de deixar o Brasil pela segunda vez, agora definitivamente, em 1986, aprontei o projeto gráfico original de 60/35, cujo título foi sugestão minha (quando Max celebrava então 60 anos de idade e 35 de poesia): um folder, ou plaquete, conforme o desejo dele, que generosamente me dedicou. Eu me despedia do país via Salvador, Bahia (onde passaria ainda oito meses) e ali, naqueles poemas, muito do que vivêramos nos últimos anos emergia agora em versos breves e cheios de vigor, muitos deles entre os melhores que Max escreveu (penso sobretudo em "O", "Isto por aquilo", "M/M" e "De um poema sonhado", todos magistrais). 60/35 significa para mim também o fim da nossa convivência diária, que não teríamos mais dali por diante. Segui encarregado dos projetos gráficos dos livros que viriam, agora feitos de longe e discutidos no bojo de nossa longa correspondência e telefonemas. Mas nunca mais teríamos o papo à vontade e despreocupado em torno da minha mesa de trabalho, o livro desmontado na prancheta, outro cigarro, a conversa entrando pela noite, sem imaginar que seria pela última vez.
— Age de Carvalho